segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Controvérsias com o Tempo



O Tempo que passou na janela
Foi embalo de trem em seus trilhos
Os meus olhos refletiram os brilhos
Como um rosto de feliz donzela...

Inda há tempo, digo pro Tempo!
Inda que eu não seja mais jovem...
Que as tuas razões apenas comovem
Nos dizeres que ecoas no vento!

Mas de qual tempo ainda me cobras?
De qual amor, Tempo, me condenas?
Eu fiquei tão quieta! Fiquei, apenas,
A espera de escutar tuas palavras...

De qual tempo tu me falas?
Em que dia, Tempo, me quiseste,
Se do meu coração só fizeste
Triste e cansado peso de malas?

E tu, tempo que passou, asseguro,
Com o resto que de ti inda sobra,
És pequeno, mas ainda me dobra
Um amor que é só teu, Tempo, juro...

Meu sorriso é discreto, não vês?
A espera do teu abraço inocente...
E ainda há bastante pra gente,
Meu querer se assanha outra vez!

E o tempo, ao contrário, me diz,
Que é sábio e que ele existe pra tudo,
Que a vida só passa, e, contudo,
Não apaga um amor... Que eu te quis!

Vania Viana - Maceió - 01.01.2010

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

UM SAPATINHO NA JANELA ( Uma reflexão sobre o amor)




Um dia eu pus um pé de um sapatinho azul na janela do meu quarto. Sabe, eu era pequenina e deveria ter quatro ou cinco anos de idade e essa imagem não sai até hoje da minha cabeça. É engraçado como certas coisas ficam registradas em nossa memória como se tivessem sido mascadas a ferro e fogo, enquanto tantas outras que pensamos jamais esquecer, são varridas de nossa memória! Era um sapatinho azul, que eu nem queria tirar do pé. Que, de tanto gostar, minha mãe cortou o bico para caber por mais algum tempo. Como acreditava que o papai Noel viria na noite de Natal, eu o coloquei na janela do quarto que dava para o corredor avarandado e florido da casa que morávamos quando crianças.
Imaginava que ele viria pela lareira – que nem havia na casa - mas nunca o via descendo. Imaginava que ele tinha um gorrinho vermelho, que era gorducho e tudo mais, mas nunca o via chegando, nem encontrei presentes no sapatinho.
Sempre tenho a sensação de que ele vai chegar, até hoje, no dia de Natal. Talvez seja por esse motivo que a troca de presentes de “amigos secretos” me traz, mais ou menos, essa mesma sensação. Para mim o poeta é um arqueólogo, que ele desenterra coisas nas entrelinhas da memória, desde a nossa mais tenra infância, para desvendarmos os segredos mais bobos que guardamos quando escrevemos ou os evocamos. Daí, a nossa criança vem à tona, faz a cena ser super atual e preciosa como um verdadeiro achado arqueológico. Creio que o que restou das lembranças desse sapatinho, além do registro de uma experiência tão singela e da absorção do significado lúdico de histórias infantis que vingaram até agora, foi a esperança. Aprendi a esperar pelo natal, por um papai Noel que sempre vem de alguma maneira. Aprendi a ler os bons sentimentos, os meus e os dos outros que me cercam com carinho, no dia a dia e sempre muito mais nessa época.
Aprendi novas formas de amor, até inexplicáveis, às vezes, para explicar a razão da nossa vã filosofia. Aprendi que, apesar de buscarmos a paz, existirá sempre divórcio, relações vazias e sem sentido; que crianças maltratadas e abandonadas sempre estiveram fora dos olhares de amor dos pais ou responsáveis; que tem gente sem tempo e sem carinho, ou para dar, ou para receber. Que por razões estranhas, casais permanecem juntos apenas para trocas de agressão. Aprendi que irmãos, filhos ou pais podem ser outros que não tenham o nosso sangue e que poderemos amar os que são à distância ou em silêncio. Aprendi que estar ao lado nem sempre é ato físico: longe, às vezes, também é perto. Que a melhor forma de domínio e de querer mudar é ter domínio próprio e que isso é dom do Espírito. Que aceitar a espera da providência divina sem deixar de fazer o que deve ser feito é a melhor forma de viver. Aprendi, enfim, que nesse mundo tão confuso e pleno de contradições intrigantes, bom é permanecer na fé e cultivar as boas lembranças, até mesmo de um sapatinho azul cortado no bico, à espera de um papai Noel, que talvez não nos venha no dia simbólico, mas certamente virá em dias inesperados e é nesse momento que o amor acontece. Ele acabou de chegar pra você, você viu?

Vania Viana - Maceió – 26.12.2009

AMOR COMO PRESENTE


Este soneto recebeu o segundo lugar no concurso
POESIAS DE NATAL
na Comunidade POEMAS À FLOR DA PELE em Dezembro - 2009



E o ano passou tão depressa e, assim
Tantos devaneios levou em seu dorso...
E da sacada vi que esse estranho corso
Abriu veredas e horizontes pra mim.

E passaram tão rapidamente as alegrias!
Tão demoradas foram as dores: sobrevivi!
Em cada uma delas tão somente cresci
Sublimei-me criando trovas e poesias.

Ainda à espera de algum papai Noel
- Quem dera que fosse enviado do céu –
Alguem que nos desse a paz universal!

Ponho na janela o sapatinho de esperança,
Com a mesma inocência de uma criança,
Esperando o amor como presente de natal!

Vania Viana – Maceió -!5.12.2009

CONTRA-SENSO




E queimo aqui dentro, dolorosa agonia!
Acordo esperando um sol na madrugada
Da janela, na minha fronha toda molhada,
Ressuscito uma dor para viver mais um dia.

E ao calor que vem manso desse clarão
Entrelaço meus braços, respiro o alvorecer...
Não sei se ainda sou eu, ou se sou você,
E me distraio em mais uma cena de ilusão!

Opostos de sentires: êxtase e melancolia!
Nada se compara a minha desarmonia,
Senão o contra-senso de amar num inferno...

Tranqüilidade e calma, restos de esperança,
Quietude e impotência, sobras de confiança,
Enganos do sonhar em viver o amor eterno!

Vania Viana - Maceió – 03.01.2010